terça-feira, 9 de março de 2010

Ouro de tolo douto Dartagnan da Silva Zanela

"Não há nada mais terrível do que uma ignorância ativa". (Johann Goethe)
Em várias ocasiões o filósofo Olavo de Carvalho nos chamou a atenção, através de seus escritos e aulas, para o amor que as pessoas nutrem por determinadas palavras ou por certas frases que são enunciadas e repetidas até a exaustão pelos indivíduos. Tal afeto não advém do fato de que essas palavras traduzem de modo claro a realidade que se apresenta para as meninas dos olhos das pessoas, mas sim, porque simplesmente elas estão a enunciar essa ou aquela palavra faz com que se sintam como seres superiores aos demais, atribuindo-se a idéia de que elas são mais justas, mais boazinhas, mais politicamente-corretas que as demais.
É incrível! Para você convencer uma multidão apatetada basta que você faça um colóquio flácido todo enfeitado com algumas palavras que a multidão reconheça um determinado valor para que todos se sintam como se estivessem imbuídos de uma espécie de missão civilizacional onde o futuro da humanidade dependa da adesão integral deles a esse conjunto vazio enfeitado com essa ou aquela palavra sem valor, mas que os faz se sentir como sendo uma espécie de “super homem” no parvo sentido nietzscheano que é atribuído ao termo.
Querem um exemplo? Lá vai então: o tal de pensamento crítico, da criticidade, do olhar crítico. Essas, meus amigos, são palavras encantadas. Você está diante de um indivíduo que é portador de um diploma de qualquer coisa (a coisa, em si, não importa aqui neste caso), e este vem lhe falar sobre a importância de ser crítico em relação a tudo, porém, o que significa ser crítico para um elemento desta estirpe? Simplesmente nutrir o mesmo afeto em relação a determinadas palavras e firmar a mesma postura de desprezo pelas pessoas que pensam de maneira contrária ao do que esses pensam.
Se você repetir bem certinha as mesmas palavras e mimetizar os mesmos trejeitos poderá ser considerado uma pessoa “crítica” e, desde modo, sentir-se-á mais boazinha e mais justa que toda a sociedade junta, mesmo que, de fato, você não o seja nada disso.
Olavo de Carvalho

No fundo o que essas pessoas desejam apenas é sentir-se melhorzinhas que as demais. No fundo o que toda pessoa que se afinca a engessar o seu pensamento através do uso ordinário de um vocabulário politicamente correto deseja é compensar algum tipo de complexo de inferioridade.
Tal fato se percebe pela forma pedante com que os baluartes do dito pensamento crítico querem impor a sua visão a todos como se esta fosse à única visão humanamente passível de ser aceita e fazem isso não através de uma depuração dialética paciente e sincera, mas sim, recorrendo ao expediente sórdido do enquadramento do debate através do “polido” uso de seu vocabulário politicamente correto pré-determinada por elas. Porém, quem determinou isso a elas?
Fazendo isso, o que temos não é a possibilidade de um debate, mas sim, a proibição sutil da apresentação de argumentos contrários ao que se está doutrinando de maneira descarada. Tal ardil é deveras rasteiro. Basta que se projete sobre todo argumento contrário às suas palavrinhas amadas uma pecha odiosa e tchan! Tchan! Tchan! As pessoas não vêem mais o significado do que você está comunicando meu amigo politicamente incorreto, mas apenas os sentimentos delas que são projetados sobre você.
Trocando em miúdos: você, por não falar as mesmas bobagens politicamente corretas, não é tão bonzinho como elas que vivem escondidas atrás de vocábulos ocos fingindo ser algo que nem elas mesmas sabem o que é.
Aliás, você já reparou que as pessoas que mais insistem em convencê-los de algo são, via de regra, as pessoas que menos se sentem seguras do que estão dizendo e, por essa razão, precisam que outras pessoas concordem com elas para que se sintam seguras? Aliás, você, por um acaso, já se viu nesta situação? Infelizmente é muito fácil cairmos nessa e nos auto-enganarmos.
E mais! É para isso que serve todo essa meleca meus caros! Para você sentir-se inseguro frente à realidade e sempre depender do que os outros vão dizer a respeito do que está se apresentando a você, chegando ao ponto de não mais confiarmos naquilo que estamos vendo se não existir alguém que nos diga (confirmando ou negando) o que estamos vendo para assim não sermos enganados pela nossa consciência individual.
De mais a mais, quem disse que o fato de muitas pessoas afirmarem a mesma coisa é sinônimo de veracidade? Quem disse que o consenso de muitos está mais capacitado para compreender a realidade do que a consciência individual lúcida e solitária?
Provavelmente os mesmos que há séculos vem gritando “crucifica-o”.

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